CRISPR | E se os mamutes voltassem?

Créditos: Wikimedia Commons

Sabia que há cientistas que estão a tentar trazer de volta os mamutes? E que outros estão a desenvolver raças de cavalos de corrida mais rápidos? As ferramentas de edição de genes estão a entusiasmar investigadores em todo o mundo, que vêm no CRISPR a solução para muitos problemas. Surpreenda-se com as dez aplicações mais invulgares da tecnologia.

Eliminar doenças em cães de raça

As doenças genéticas são frequentes em cães de raça pura, mas nos Estados Unidos um criador de Dálmatas – muito propensos a pedras nos rins devido a uma mutação genética- está a tentar consertar este defeito genético nos animais através do CRISPR. Mesmo que consiga, não os poderá vender sem o aval da FDA – Food & Drug Administration, a agência responsável por proteger a saúde pública nos Estados Unidos.

Outros projetos que usam o CRISPR para a criação de animais de estimação consistem na criação de porcos em miniatura e de carpas Koi (peixes) com tamanho, cor e padrões personalizados.

Alimentos anti-alergénicos

Há uma esperança para as pessoas que desenvolvem alergias às proteínas do leite, dos ovos e dos amendoins. A CSIRO – Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation, o órgão nacional para a investigação científica na Austrália, está a usar o CRISPR para reescrever as regiões do gene reconhecidas pelo sistema imunológico e que causam uma reação alérgica.

Também na Holanda, um grupo de investigadores está a modificar o DNA do trigo para remover o glúten, para que possa ser consumido em segurança por celíacos.  

“Gravadores” de DNA

Em Harvard, nos EUA, os investigadores criaram uma ferramenta molecular chamada CAMERA (abreviação de aparelho de gravação analógico de múltiplos acontecimentos). Desenvolvida com CRISPR, esta ferramenta regista tudo o que acontece a uma célula durante a sua vida, como por exemplo a exposição a antibióticos, nutrientes, vírus e luz. A longo prazo, pode ajudar a detetar poluentes ambientais ou rastrear os sinais que determinam se as células-tronco crescem e se tornam neurónios, células musculares ou outro tipo de célula.

Grãos de café naturalmente descafeinados

A empresa britânica Tropic Biosciences desenvolveu uma variedade de grãos de café geneticamente editados para serem naturalmente descafeinados. Usando o CRISPR, os investigadores conseguiram desativar os genes que fazem com que os grãos produzam cafeína. A produção atual de descafeinado é um processo caro e agressivo (os grãos são embebidos e cozidos no vapor), mas a variedade geneticamente editada custará menos e terá mais nutrientes e melhor sabor.

Combustíveis mais verdes

A Synthetic Genomics utilizou o CRISPR-Cas9 para melhorar a produção de biocombustíveis das algas. Ao localizar e remover os genes que limitam a produção de gorduras, a empresa californiana conseguiu criar cepas de algas com o dobro de gordura, usada para produzir biodiesel. De salientar que as algas não têm altos níveis de gordura, pelo que, até agora, o biodiesel das algas não era economicamente viável. Esta conquista pode mudar esse cenário.

Tomates picantes

O primeiro tomate picante está a ser desenvolvido no Brasil e na Irlanda. O fruto carrega muitos dos genes que produzem a capsaicina (o composto que torna as pimentas picantes), mas com a ajuda do CRISPR os investigadores introduziram os genes que faltam para apimentar o tomate. 

Controlo de pragas

Além de transmitirem doenças infeciosas, alguns insetos podem tornar-se invasores em determinados ecossistemas. O CRISPR permite criar os chamados “gene drive” que garantem que uma modificação genética é herdada por todos os descendentes, ao longo de várias gerações. No ano passado, após a introdução do chamado “gene drive” em mosquitos confinados a um ambiente fechado, os investigadores do Imperial College London, no Reino Unido, conseguiram impedir as fêmeas de porem ovos. Provaram que a tecnologia poderia ser usada contra a espécie de mosquito responsável pela disseminação da malária.  

Uma abordagem semelhante está a ser pensada quer para o controlo de ratos invasores, que causam estragos em ecossistemas com espécies em extinção, quer para o controlo dos gatos selvagens na Austrália.  

Cavalos de corrida mais rápidos

A empresa argentina Kheiron-Biotech está a editar o genoma de cavalos de corrida para desenvolver raças mais rápidas, fortes e com um desempenho melhorado em saltos. Através do CRISPR, os investigadores modificaram o gene que codifica a miostatina, uma proteína fundamental para o crescimento dos músculos. Esperam que os primeiros cavalos geneticamente editados nasçam este ano.

Salmão mais nutritivo

O Canadá já produz salmão geneticamente modificado, que cresce mais e mais depressa do que o salmão convencional. Mas as novas ferramentas de edição de genoma permitem ir mais longe. É o que estão a tentar fazer investigadores na Noruega, que usaram o CISPR-Cas9 para produzir salmão estéril. Esta característica fá-lo crescer melhor e ser mais resistente a doenças e impede-o de se reproduzir caso escape dos tanques de aquicultura.

Recuperação de espécies extintas

Já ouviu falar do pombo-passageiro? Habitava há muito as florestas da América do Norte e está no primeiro lugar da lista de animais extintos que os investigadores querem trazer de volta. Os investigadores querem usar o CRISPR para introduzir genes do pombo-passageiro no pombo de causa, o seu parente contemporâneo. Para isso vão desenvolver híbridos, que serão criados durante várias gerações até que o DNA dos animais corresponda ao da espécie extinta. A primeira geração de pombos “recuperados” deverá surgir em 2022. A seguir poderão ser os mamutes. Um grupo de investigadores em Harvard, nos EUA, já estão a trabalhar para os recuperar da extinção.

Este texto foi escrito com base no artigo de Clara Rodríguez Fernández, publicado em Labiotech.eu.

CiB – Centro de Informação de Biotecnologia

Edição do genoma | Para que servem os TALEN?

Expostas constantemente a stresses bióticos e abióticos, as plantas não dispensam a ajuda das novas tecnologias de precisão e de melhoramento molecular para facilitar a sua capacidade de reprodução.  Uma dessas tecnologias são os chamados TALEN.

Além do desenvolvimento de dispositivos digitais inovadores, como sensores, detetores e robótica, e de tecnologias de gestão e controlo preciso e mais eficiente do sistema de produção, os investigadores têm trabalhado continuamente na criação de ferramentas e práticas inovadoras que permitem melhorar a produtividade das plantas. Exemplos dessas ferramentas são o sistema CRISPR (clustered regularly interspaced short palindromic repeats),  ZFNs (zinc-finger nucleases), Homing Endonucleases (HEs) e Meganucleases, e TALEN (transcription activator-like effector nucleases).

Destas, as mais conhecidas e populares são os CRISPRs, que permitem editar o genoma das plantas com uma altíssima precisão. No entanto, os TALEN, além de extremamente precisos, apresentam recursos adicionais, podendo direcionar qualquer sequência de DNA, discriminar entre alvos de DNA metilados e não metilados e modificar o DNA em organelas celulares, como por exemplo as mitocôndrias.

Em plantas, os TALEN podem usados para as proteger dos efeitos das alterações climáticas. Como? Através da edição de genes que aumentam a proteção contra pragas e doenças e a resiliência a condições ambientais severas, como seca e salinidade. E em produtos derivados das plantas agrícolas, têm também sido usados para melhoria da qualidade.  

Soja, trigo, milho, arroz e batata, cana de açúcar e algas para biodiesel, fermentos, mosca da fruta, lombrigas, grilos, peixe-zebra, rãs, ratos, porcos, vacas, bichos-da-seda e mamíferos são exemplos de aplicação dos TALEN.  

Saiba mais na Pocket K No. 59, disponível para download no site da ISAAA.

Informações interessantes também aqui:

Siga o CiB no Twitter, no Instagram, no Facebook e no LinkedIn. No CiB, comunicamos biotecnologia.

Biotecnologia |Edição de genoma e RNAi usados na produção de biocombustível de algas

-algas-2-1024x768

Em 2015, o consumo global médio de petróleo foi de 93 milhões de barris por dia. Mas os investigadores descobriram uma forma de substituir essa fonte fóssil de energia por uma mais limpa e sustentável: as algas. Através de ferramentas biotecnológicas, como a edição de genomas e o RNA de interferência (Ri), elas podem ser usadas para a produção de biocombustível e dessa forma contribuir para alcançar o sétimo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

A tentativa não é nova. Há muitos anos que os investigadores procuram produzir combustíveis a partir de algas, para fins comerciais, mas esse propósito revelou-se sempre inviável graças a um fator: as algas são capazes de atingir um crescimento rápido ou de produzir um alto teor de lipídios, mas não ambos. Ou seja, era possível produzir biocombustível em larga escala, mas não de uma forma competitiva.

Foi justamente esse problema que os investigadores da empresa multinacional americana Synthetic Genomics e ExxonMobil conseguiram resolver, alterando um gene específico das algas através de tecnologias como a edição de genoma (CRISPR-Cas) o RNA de interferência (RNAi).

Com este trabalho, os cientistas provaram que as algas podem ser uma matéria-prima sustentável para a produção de biocombustíveis e um contributo importante para a redução do consumo de petróleo. Saiba como, aqui.

E aqui conheça os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Siga o CiB no Twitter, no Facebook e no LinkedIn. No CiB, comunicamos biotecnologia.